A Guerra Guaranítica pelo olhar de um padre
A maior tragédia que aconteceu na Região das Missões foi a Guerra Guaranítica, embate entre os exércitos de Portugal e Espanha contra os índios guarani. Entre 1754 e 1756 os campos do atual Rio Grande do Sul conheceram uma face nefasta da humanidade, quando os habitantes locais foram mortos com crueldade e descompaixão pelos ibéricos.
Ainda há alguns mistérios deste período, que as poucos os historiadores vão desvelando. Uma importante obra para entender melhor este episódio é uma fonte original de pesquisa, o relatório do padre Tadeo Henis, que acompanhou de perto o conflito e mostrou como os índios vivenciaram os acontecimentos. Em quase 100 páginas Henis descreveu as lutas, o medo e a força dos nativos missioneiros.
Sobre o combate mais sangrento desta guerra, onde cerca de mil índios foram mortos em uma hora de luta o padre Henis narrou que “não é de surpreender que os índios tenham fugido e tenham sido derrotados, assim como a vitória não é gloriosa para os espanhóis; porque com 3.000 bem armados, com armas de fogo, e muitos bem disciplinados, lutando contra 1.300 que não têm nada além de arcos, flechas, fundas e lanças, e que não sofrem disciplina, nem conhecem patrões, a não ser no nome, teriam colocado uma grande mancha, ou desgraça para o nome espanhol se tivessem sido derrotados”.
Fica claro no trecho citado a grande vantagem dos ibéricos, o que mostra definitivamente que os guarani eram um povo lutador, que prezava pelos seus e pela sua terra. Cai por terra definitivamente a ideia de um índio preguiçoso, indolente e incapaz de pensar por si. Fica o exemplo de que lutar é mais importante que vencer, pois a luta deixa o exemplo e a vitória, como no caso dos europeus na Guerra Guaranítica, pode deixar uma mancha na história.
Texto escrito por:
Anderson Iura Amaral Schmitz
• Licenciatura em História pela URCAMP
• Licenciatura em Filosofia pela UNINTER
• Especialização em História do Brasil Contemporâneo pela URI
• Mestrado em Patrimônio Cultural pela UFSM
• Atualmente atuando como professor da URI, coordenador do Centro de Documentação e Memória do Instituto Histórico e Geográfico e Diretor de Museus de São Luiz Gonzaga.
• O mais importante de tudo: pai da Andressa, do Pedro e do Leonardo e avô da Ana Luiza e da Giovana