Muita gente pensa que nas Missões Jesuíticas havia exploração e até mesmo escravidão dos índios por parte dos padres, mas na verdade este é um pré-conceito que deve ser combatido. 

Vamos refletir um pouco sobre o modelo administrativo missioneiro. Em cada povoado havia em torno de três mil índios e dois ou três padres, sendo um deles o Cura, que era o responsável por tudo, estes eram os únicos não-índios no local. Pensemos pois, como poderiam dois homens explorar e até mesmo escravizar os nativos? Logo entendemos que seria uma tarefa impossível.

Se os padres eram em número insuficiente para administrar e coordenar os trabalhos de milhares de homens e mulheres, quem fazia a administração das missões? Acertou, os índios!

Em cada povoado existiam os caciques, que eram os verdadeiros administradores. Eles eram tão importantes que a Coroa Espanhola concedia a eles títulos de nobreza. O cotidiano era tocado por eles, agricultores, criadores de animais, artesãos, carpinteiros, músicos e tantos outros profissionais eram coordenados pelos caciques. Alguns em altos cargos como corregedor, alcaide e mayordomo, todos eleitos democraticamente entre os índios. 

 
Os índios faziam a administração das missões

O local onde se reuniam os caciques para administrar o povo era o cabildo. Neste lugar funcionavam todos os poderes políticos da missão, eram debatidos os assuntos mais importantes e tomadas as decisões após análises e debates. Cada povoado tinha seu cabildo, era uma mistura atual dos poderes executivo, legislativo e judiciário.

E os índios infratores, o que era feito com eles? Assim como hoje eram punidos, seja com chibatadas ou até, em casos mais graves, expulsão do convívio comunitário. Os padres aplicavam a pena? Não. Os padres sequer participavam dos atos punitivos.

Concluímos entendendo que os caciques tinham plenos poderes (mesmo que com a anuência dos padres). Com exceção da religião, onde os índios serviam como auxiliares, dada a condição de hierarquia da Igreja Católica.

Talvez não tenha sido o paraíso na Terra, como alguns querem crer, pois fome e doenças eram cíclicas, mas a sociedade Jesuítico-Guarani na América do Sul representou um recorte temporal em que se tentou a convivência fraterna em uma unidade das culturas europeia e americana, mas, mais uma vez a ganância e o menosprezo das elites políticas e econômicas mundiais pôs fim à harmonia entre os homens.