Todos sabem (pelo menos deveriam saber) que a religião nas Missões Jesuíticas era o Cristianismo, mais especificamente o Catolicismo Apostólico Romano. No caso específico das nossas povoações missioneiras a religiosidade era ministrada pela Ordem da Companhia de Jesus. Os jesuítas compunham um grupo de religiosos com ampla formação, não só religiosa, como filosófica e de especialização em outras artes e ofícios, como música, arquitetura e até mesmo medicina.

Na América do Sul os padres jesuítas tinham a missão de converter e proteger os índios contra a escravidão, seja contra portugueses ou espanhóis. A conversão não foi um elemento de fácil aplicação, pois os indígenas já possuíam religião.

 

Os jesuítas cumpriram funções de catequização, ensino e produção econômica no Brasil.

A religião primitiva dos guaranis era do tipo animista, onde elementos da natureza, como sol, lua e chuva possuíam essência espiritual, eles também tinham suas mitologias, seus mitos criadores e uma constante busca pela “Terra Sem Males”, um local sem fome, violência ou guerras. Junto a isso, havia uma forte presença do xamã, uma mistura de profeta, sacerdote e médico, tanto do corpo quanto do espírito.

Mas de que forma essas duas religiões puderam conviver nas Missões?

Os guaranis optaram viver em comunidades cristãs para salvar sua vida. Primeiramente em uma clara manobra para escapar dos ataques escravistas dos Bandeirantes Paulistas. Mas isso não é tudo. A salvação também seria da alma, os guaranis enxergavam no paraíso cristão a sua “Terra Sem Males”. 

Para os nativos não houve uma troca de religião, mas o que sociologicamente chamamos de sincretismo (mistura). Houve uma adaptação do guarani ao novo modelo, demonstrando e capacidade de sobrevivência extraordinária, contrariando aqueles que citam os guaranis como seres pouco inteligentes e preguiçosos.

Vou dar um exemplo que me parece claro sobre o sincretismo e suas heranças: o benzimento (elemento indígena). Na atualidade ainda temos pessoas que benzem, muitas vezes utilizando elementos da natureza, como brasa ou ramos de plantas. Em suas benzeduras é frequente a oração a Deus, ou Jesus Cristo e Nossa Senhora (elementos cristão). 

A prática do benzimento ainda é comum entre o povo indígena

Temos aí uma clara manifestação da união entre o cristão europeu e o animista guarani. União que se deu não só na religião, mas em todos os aspectos da vida missioneira. Talvez aí estivesse a Terra Sem Males, neste plano, nesta vida, nas Missões Jesuíticas.


Texto escrito por:

Anderson Iura Amaral Schmitz

• Licenciatura em História pela URCAMP
• Licenciatura em Filosofia pela UNINTER
• Especialização em História do Brasil Contemporâneo pela URI
• Mestrado em Patrimônio Cultural pela UFSM
• Atualmente atuando como professor da URI, coordenador do Centro de Documentação e Memória do Instituto Histórico e Geográfico e Diretor de Museus de São Luiz Gonzaga.
• O mais importante de tudo: pai da Andressa, do Pedro e do Leonardo e avô da Ana Luiza e da Giovana